Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de 2012

Conivência e Complacência: Onde isso irá nos levar?

A maior parte dos pais de alunos com os quais tive que lidar até agora no Município são pais extremamente ausentes. Muitos adotam uma postura de pais presentes, outros de pais desesperados, mas, no dia a dia, no lidar com os alunos. Noto que não é bem assim. São ausentes, distantes e poucos preocupados. Entretanto são sempre muito CONIVENTES com os filhos: são presenteados quase sempre mesmo não havendo datas festivas ou motivos quaisquer para tal, não disciplinam mesmo com nossa solicitação.....Eu, a psicóloga de plantão, sou capaz de dizer que essa postura provavelmente é uma forma de amenizar suas consciências por tanta ausência. Pode ser...... Agora, quando a postura de CONIVÊNCIA associada a COMPLACÊNCIA vem da escola tudo se torna muito mais complicado. Uma escola que pretende mudar sua imagem perante a sociedade não pode e não deve ser conivente com os delitos praticados por seus alunos. São crianças e adolescentes que sairão da escola com a visão de que haverá sempre alguém

INVISIBILIDADE

A invisibilidade consiste, para nós, seres humanos na incapacidade da luz não ser absorvida e nem refletida em um objeto. Sabemos que esse fenômeno ainda é desconhecido na natureza e, por isso, o vemos tão explorados em filmes de conotação científica. Conhecemos o fenômeno da INVISIBILIDADE SOCIAL termo aplicado quando seres humanos são socialmente ignorados por conta do preconceito ou da indiferença. E no contexto escolar? É possível um aluno passar 8 (oito) anos inserido no universo escolar e NUNCA ser notado? Vamos a história: Esse aluno chegou ao projeto em que trabalho pouco depois de mim, ou seja, no mês de abril. Ele é um aluno muito faltoso e, por isso, demorei a conseguir avaliá-lo. Assim que o fiz, descobri que era analfabeto. Nada inédito. Inadequado em se tratando do projeto em que atuo, mas não inédito e já comentei sobre isso em outras publicações. Enfim, começamos o trabalho com ele. Alfabetizar não é tarefa para todos, ao contrário, é tarefa para muito po

Duzentos gramas OU Duzentas gramas?

Então... estamos aprendendo sobre o gênero dos substantivos. O GRUPO DOS 18, como já postei aqui, está estudando História, Geografia, Ciências, Matemática e, em Língua Portuguesa, meu carro chefe, estamos começando pelos substantivos. Essa semana, ao trabalhar exercícios dos gêneros dos substantivos chegamos nas palavras uniformes com significados diferentes para o masculino e para o feminino. Após a explicação da diferença de O GRAMA e A GRAMA perguntei: "Como então, devemos falar na hora de pedir o presunto na padaria? Duzentos gramas de presunto ou duzentas gramas?" Retruca o aluno mais inteligente da turma: "Agora eu sei que é duzentos gramas, 'fessora'! Mas se eu falar assim com o padeiro ele é que não vai entender. Então, pra quê aprender isso?" Respondi. Claro! Sou educadora! E uma educadora que se prese sempre tem uma resposta! Mas essa pergunta ecoou em minha mente. E só criei um sentido pra ela hoje, após uma conversa, quase filosófica, com uma

OS PAIS II - a missão continua

Diálogos inesquecíveis: CASO 1 .  MÃE: tenho 6 filhos, cada um de um pai, agora moro com o pai desse que está no colo. Moro com ele porque ele mora mais embaixo do morro. Minha mãe mora muito lá em cima e com essa criança doente fica inviável morar com ela. Meu filho, seu aluno, desistiu de morar comigo. Ele me via apanhando do pai desse aqui ( o bebe de colo) quase todo dia, ficou revoltado. Desistiu de morar comigo por isso. Foi morar com a avó. EU: Seu filho falta muito a aula, mãe. Ele é um dos meus melhores alunos, mas falta demais! Você precisa conversar com ele sobre a importância dos estudos todos os dias, mãe. MÃE: eu falo, professora! O problema é que ele está revoltado com a minha situação. Mas eu falo pra ele não ficar revoltado. EU: Mãe, não adianta dizer o que ele tem que fazer. Se você não mudar como pode exigir dele a mudança??? MÃE: Mas eu preciso do pai desse aqui, professora! É melhor apanhar e ter o dinheiro dele. Se eu o abandonar ele não vai me ajudar em na

GRUPO DOS 18

Tenho dois grupos completamente desiguais em minha turma. Vou me deter nessa publicação ao GRUPO DOS 18. Formado por dezoito alunos, leem e escrevem com fluência adequada, ou até superior a adequada para alunos do 6º ano. Desde a primeira avaliação questiono-me sobre o porque esses alunos estão nessa turma, nesse projeto. Não limitei-me a questionar minha lógica: perguntei a itinerante anterior, a itinerante atual, a direção, a coordenação, enfim, todos os que possivelmente saberiam me responder. Perguntei a tantas pessoas porque a resposta, apesar de uníssona, me parecia tão incoerente que continuei perguntando. A alegação de todos é que são alunos com DISTORÇÃO IDADE SÉRIE. Esse é um dos quesitos para tornar o aluno participante do projeto. Entretanto há mais um fator MUITO RELEVANTE que fora ignorado por todos os gestores que os incluíram no projeto. Esses alunos precisavam apresentar DEFICIÊNCIA NO PROCESSO DA LEITURA e da  ESCRITA. Sem essa deficiência a permanência desse grup

OS PAIS

Durante esse meu primeiro mês tenho chamado vários pais a escola a fim de conhecer melhor o histórico familiar e escolar de meus alunos. Optei em não chamá-los todos ao mesmo tempo porque sabia que, pela convivência com os alunos, havia casos mais e menos graves e, na intenção de não  expor os problemas de uns a outros estou chamando aos poucos. Essa oportunidade tem me permitido ouvir coisas, no mínimo inusitadas. Vamos aos casos: CASO 1 “Meu filho, desde a barriga, sofre inúmeros problemas. Minha mãe, que é viciada em drogas e alcoólatra, me deu vários chutes na barriga durante a gravidez. Os primeiros três anos de vida dele passamos no hospital porque ele tinha um problema de coração. Ele sempre foi revoltado pela ausência do pai. Seu histórico de inúmeras expulsões  escolares é por causa dessa revolta.” CASO 2 “Quando a senhora ligou querendo falar comigo já comecei a passar mal mesmo sabendo que não era nada grave. Mas a culpa não é sua. É que qualquer ligação da escola

REESCRITA DE REDAÇÕES

Em minha primeira reunião pedagógica, recebemos um texto interessantíssimo de Luiz Percival Leme Britto onde o assunto tratado era a importância da reescrita. A necessidade dos alunos reescreverem suas próprias redações efetuando, assim, a correção dos erros ortográficos, sintáticos etc. Achei interessante ver na teoria algo que já pratico há muito tempo. Talvez por conta de minha experiência como professora de redação exclusivamente em uma escola particular. Desde então uso uma metodologia de lauda com os alunos específica para a escrita e a reescrita de redações. Fiz uma adaptação da lauda dos alunos pré-vestibulandos para uma lauda mais simplificada para o projeto. Enquanto a outra, por exemplo, exigia uma produção de 5 a 30 linhas essa exige uma produção de 15. Outras modificaçõezinhas também foram feitas. Alguns colegas durante a reunião falaram do receio de corrigir alunos que já se sentiram tão preteridos ao longo de sua vida escolar e que por isso, nesse momento, deixava que

DENÚNCIA POLÍTICA OPOSICIONISTA, REPÚDIO AO ALUNATO OU DESEJO DE VIRAR CELEBRIDADE??

NENHUMA DAS ALTERNATIVAS ANTERIORES, senhores e senhoras. MINHA intenção ao iniciar esse blog foi a de exorcizar MEUS sentimentos, insatisfações e, até mesmo, expor MEUS progressos diante desse novo desafio. Fiquei feliz em saber da visibilidade que o blog já teve. Agradeço aos leitores anônimos  e lamento apenas que os senhores e senhoras ainda permaneçam anônimos. Seus comentários e críticas poderiam ser construtivos para a melhora do meu desempenho  profissional e até mesmo para futuras postagens mais concisas e interessantes. Enfim..... mesmo assim, agradeço a visibilidade. Venho nessa postagem apenas deixar claro que esse é um momento de manifestar MINHAS impressões e, por isso, não postei e nem postarei nomes de escolas, de colegas professores, diretores, coordenadores e muito menos nomes de alunos. É o lugar da MINHA manifestação de direito como cidadã, conhecedora também de MEUS deveres, que vive em um país teoricamente democrático. Não há a intenção de pejorar institui

O ambiente de trabalho

O ambiente de trabalho é um caso a parte. Palavras não fariam jus à estrutura que tenho disponível. Dessa forma resolvi mostrá-la mesmo que sem dar ‘nome aos bois’. Nada de nomes para a escola, direção etc. Só imagens. Que certamente não conseguem captar a real situação, mas darão uma noção superficial do que quero dizer. Veem os basculhantes? todos pintados de verde. Escurecem a sala de aula.  O vidro da porta NÃO EXISTE. Os alunos de outras turmas, TODO TEMPO, colocam a cabeça naquele buraquinho e GRITAM os colegas da minha sala de aula.    Os ventiladores não tem tela de segurança na frente. Os fios estão superficialmente encapados com fita adesiva e sem tomada. Além disso, são absurdamente barulhentos. Ou eles ou a explicação de alguma matéria. Desligo quando vou falar e todos reclamam e prestam muito pouca atenção apesar de toda minha 'presença de palco' e 'oratória perfeita'.rs....   Cadeiras quebradas, armários amassados, depreciados pelos p

Espiritualizando meeesmo!

Tenho uma formação religiosa cristã e pratico minha fé. Acredito mesmo no ser CORPO ALMA e ESPÍRITO e tento, dentro do possível, cuidar de minhas 3 partes. A escola é LAICA! Eu sei!!Mas, para quem tem um embasamento de fé como eu, é impossível não perceber que minha luta, ao longo desse ano, irá além do pedagógico. Há uma guerra espiritual a ser travada ali diariamente. Chego mais cedo e intercedo de mesa em mesa e peço a Deus sabedoria e discernimento para mim calma, capacidade de compreensão e libertação para eles. Ao conversar com uma mãe, essa semana, ficou muito claro que o filho dela  passa por sérios problemas espirituais. Ele é constantemente preterido pelo pai e por isso é muito revoltado. Faz acompanhamento psiquiátrico e psicológico, já foi expulso de 3 escolas, já matou o animalzinho de uma diretora justamente na mesma época daquele caso em Realengo e, por isso, foi expulso pela 2ª vez e quando está com raiva é tão agressivo que 3 homens adultos seguranças da escola

O MATERIAL DO PROJETO E A CONSUMEIRIZAÇÃO

O projeto tem um andamento e uma estrutura muito particular. O material didático é fornecido pelo Instituto Ayrton Senna, as avaliações e etapas do projeto são bem diferenciadas das demais turmas de ensino regular. Todavia, até o presente momento, hoje são 14 de abril e o primeiro bimestre letivo já está chegando ao fim, esse material ainda não chegou. Não cabe a mim dizer de quem é a responsabilidade por isso, afinal, como todos sabem, sou recém-chegada a rede e não sei os meandros das coisas no sistema. Mas, sou brasileira, e entendo o meandro das coisas no meu país. Isso já conta bastante! Falta de repasses financeiros, de congruências politico-administrativas, excesso de burocracias.... Essas são as possíveis causas para tanta demora. Tive um contato com o material do Instituto Ayrton Senna deixado pela professora anterior no armário para mim. Uma única cópia de cada um dos livros do projeto. São 3 livros. O material é muito bom. Para alunos de 7,8 até 9 anos. Meus alunos têm

Os alunos

O objetivo do projeto REALFA é a REALFAbetização de alunos que, ao longo dos anos, muuuuitos anos na rede, não conseguiram aprender a ler e a escrever. Em outras palavras, são alunos vítimas do processo de aprovação automática existente na antiga gestão municipal. Esses alunos foram sendo aprovados para as séries seguintes até que, ao começarem o 2º ciclo do Ensino Fundamental, algum professor conseguiu perceber esse indivíduo em meio aos 50 que gritavam ao mesmo tempo em seu ouvido e viu que ele não sabia ainda ler e escrever. Entretanto nem esse professor, nem a direção, nem seus pais, nem NINGUÉM resolveu o problema imediatamente. Só no ano seguinte, com esse aluno obviamente reprovado inseriram-no no projeto. Então ele veio parar em minhas mãos e eu terei que fazer o que nenhum professor, ao longo de 7 anos de estudo dessa criança, fez: ensiná-lo a ler e a escrever. Nenhuns dos alunos inseridos no projeto são totalmente analfabetos. O projeto é para professores chamados de P1,

A recepção

O ‘rito de iniciação’ no Município do Rio foi tão complexo que é inevitável você não pensar que o próximo passo será muito bom. Afinal, se para ingressar em uma empresa as exigências são tão elevadas significa que os funcionários já inseridos ali são de altíssima qualidade e você também precisa estar no mesmo nível para ser digna de estar ali. Quando o assunto é o Município tudo isso é uma grande falácia! Até a escolha de escola o processo teve uma organização extrema. Entretanto, já na CRE, não havia escolas suficientes para o número de professores chamados. Como assim!!! Isso mesmo! Há mais professores convocados que vagas disponíveis. Logo, a lista de escolas a serem escolhidas era para projetos como REALFA e ACELERA, PROEJA e em poucas escolas da lista a quantidade de horas/aulas acordadas no edital do concurso, ou seja, 12 horas aula + 4 tempos de estudo pedagógico. Sendo assim, com pouquíssimas opções, resolvi escolher por proximidade. Afinal, são cinco anos trabalhando muito